ISSO ERA BUENÓPOLIS
De quando JK, presidente bossa nova, veio aqui, dos estrangeiros: Acácio, Latif e José Mansur, Tufic Salim, Tufic de Almeida, Elias Turco, Alexandrino, do espanhol João Romero, do forrozeiro João de Araújo a Zé Carujo.
Da solidariedade do Buenopolense ausente, do falso do mascate itinerante, da ansiosa espera de pessoas queridas no desembarque e da tristeza no embarque de trem.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Uísque com Guaraná, da Cuba Libre, do maiô, da calça lee, do laquê, do bambolê, da juventude transviada sem motivo, da Perfídia, do relógio que não parou, da boneca cobiçada de olhos verdes, nas veredas tropicais que ainda existem, de Altemar Dutra e Elis.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do amor e do romantismo que rolava nas horas dançantes na casa de Dona Nagib e Natalícia Pires. Dos amores platônicos, consequentes e inconsequentes. Da imitação aos artistas e a vida.
ISSO ERA BUENÓPOLIS E SUA GENTE...
Da tristeza na volta para o colégio, deixando para trás muitas saudades e recordações em cada rua, esquina, quintais e corações.
Chega de tanta saudade, de Petit Fleur. Preciso aprender a ser só.
Eu e a brisa e de outras bossas.
Por tudo isto e muito mais. Por tudo que falei e deixei de dizer.
Aquele abraço.
Reviver a doce amargura da saudade ainda é melhor que a dor no peito e o retrato na parede ou em algum álbum antigo em lugar insignificante de uma casa sem emoção.
Que nossos filhos e descendentes continuem contando uma história e depois outras, para que Buenópolis não perca a sua memória e identidade.
ALUSÃO AO CONTERRÂNEO BUENOPOLENSE
Quem não se lembra da primeira escola, da professora querida, de Buenópolis e de seus lugares comuns que apesar de transformados ainda persistem. Foram as pinturas, a maquiagem e a plástica dos sonhos, mas, o cenário ainda é real para novas histórias.
Dos piqueniques bucólicos aos passeios na Avenida das Mangueiras em direção ao casarão quando dos tempos vagarosos, dos eventos sociais e gastronômicos do Hotel Internacional de Augusto e Luiz Jeppi, da Sorveteria de Antônio Miranda ao Salão de Tufizinho.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do cinema Ideal de João de Sena, do Cine Teatro dos Padres ao cinema gratuito do Altamir Andrade, do Ascoop de Dante Cafaggi, do correio de Almerinda Matos Diniz à carta tão esperada, às vezes tão esperada buscada do Sr. Dico Diamantinense.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Footing na Estação Ferroviária para contemplar novidades e passageiros de trem ao saboroso toddy de José de Paula, das serestas emocionantes e pastorinhas do Sr. Carlos. Das cruzadas religiosas, das horas sociais.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do grupo Escolar Nossa Senhora do Carmo ao Colégio Dr. Luiz de Paula. Do Padre Laerte, dos italianos Frei Henrique e Padre Humberto Bristot.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Das Semanas Santas com muitos rurícolas, do Rancho de tropas, da Serrinha, do Graças a Deus, de Porfírio Brandão e suas éguas nas ruas, de Cassimira Velha pedindo passagem, das Festas do Divino, Santa Luzia de 13 de Dezembro na Várzea de Joaquim Catraia.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Judas e seus testamentos famosos, dos carnavais, dos concursos de Rainhas, dos blocos do cordão dos sujos, da lança-perfume rodoro da rodia, das máscaras e serpentinas.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Das sessões de matinês, da missa das 07:00 horas na Matriz, do chique de viajar de terno e guarda-pó, do retrato tirado no Parque Municipal de Belo Horizonte, dos bailes, dos ternos de linho, cassimira e de tergal.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Das ruas: Grande, de Galego, Santa Luzia, Praça de São Sebastião, da Vila Andrade, do Cascavel, de Joaquim Fumo, do Caroba, Porteirinha, de Mayrink, do Triângulo, das Marianas, de Bença Pai de Adolfo, Percina do twist, José Fuzaca, Ricardina e de Manoela Elegância.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
De Dona Laura e suas frutas, de Manuelzão e seus queijos, da Providência de Sr. Augusto e Cristalina do Sr. Joaquim.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Dos Parques de diversão e mensagens sentimentais, do Circo de Tourada do Mulatino, de quando a luz era o luar e as estrelas tinham importância no romantismo da vida.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Jazz Band de Buenópolis, do Independente Jazz, da Banda Euterpe Santa Cecília ao Mestre José Raimundo, da influência americana de Colim Porter, Glen Muller, Ray Conniff e Billy Vaughn.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Clube Continental, dos Times do Atlético e Comercial, das rivalidades, da cerveja casco escuro servida nos reservados de Aymoré Mansur, do Sanduíche do Sr. Inácio na esquina.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do chique de já ter tido aeroclube, a vaidade de mostrar o olerite ferroviário, dos bois embarcados pelos fazendeiros, do entusiasmo provocador nos leilões de São Sebastião.
ISSO ERA BUENÓPOLIS...
Do Bentiautas nas ruas, da bola-de-gude, do medo de Ana Taiobeiras professora, João Teodoro delegado e Sr. Silva soldado, da molecagem, das rezadeiras molhando o pé do cruzeiro pra chover.